Um exame da configuração histórica das díades fronteiriças brasileiras revela, quanto às condições de origem, o papel significativo, embora longe de predominante, desempenhado pelas guerras. Quanto ao momento da sua delimitação, o exame derruba facilmente o mito da antigüidade das linhas limítrofes do país: o Império é o grande período de horogênese – para empregar outro termo cunhado por Foucher [O termo foi cunhado a partir da raiz grega horoi – da qual se originou “horizonte” em línguas latinas – que servia para designar os limites políticos do território da cidade]. Evidentemente, a classificação da horogênese implica uma dose razoável de subjetivismo, pois cada díade ou segmento condensa uma história complexa que envolve, às vezes, sucessivos tratados contraditórios, novos litígios, episódios de conflito militar ou arbitragem. Tomou-se por base classificatória o momento da delimitação estrutural de uma linha de fronteira, que pode ser eventualmente anterior ao tratado definitivo, mas que o condicionou decisivamente. (In MAGNOLI, D. O corpo da pátria: imaginação geográfica e política externa no Brasil (1808-1912). São Paulo: Moderna/Edusp, 1997.)
